Em 2016, a Cia Luna Lunera completa 15 anos de existência. Em comemoração, estreia dia 31 de março no CCBB Belo Horizonte a peça “Urgente”, que através de um forte viés poético discute as delicadas relações que o ser contemporâneo trava com o transcurso irrefreável da vida.

A sensação de impotência frente aos dias, meses e anos que correm cada vez mais rápido, deixando sonhos morrerem na condição de meros planos nas gavetas, enquanto cumprimos as mesmas obrigações mecânicas de sempre. Quando se dá por si, já se é velho demais. O envelhecimento e a solidão se apresentam como realidades. A ampulheta impiedosa não pára frente aos sonhos e expectativas projetados a um futuro que nunca chega, posto que nunca teve oportunidade de ser construído.

“Urgente” discute a rápida passagem do tempo em uma peça que tem duração determinada e tempo pra acabar: 1 hora e 40 minutos. Como lidar com o tempo que passa dando sentido a ele? O espetáculo se compõe de seis encontros de cinco minutos cada, cinco dúvidas, dois desabafos, um samba enredo, um desabamento, uma desistência e seis despedidas.

Um cenário simples, composto por quatro nichos de um metro quadrado cada, onde habitam as personagens e suas complexidades. Um enredo não linear que se revela aos poucos e se relaciona com a história de vida dos próprios atores, que apresentam suas trajetórias pessoais em retrospectivas de dois minutos, na medida em que soa uma sirene. Como resumir uma vida em um tempo tão diminuto? O que nos marca e nos constitui como pessoas?

Processo criativo

“Urgente” é fruto da parceria entre a Cia Luna Lunera e o Áreas Coletivo da Arte, que assina a direção da peça. O processo de gestação do espetáculo também contou com a interlocução dramatúrgica do escritor Carlos de Brito e Mello, que realizou uma conexão entre a literatura, a filosofia e a poética das cenas.

“Escolhemos trabalhar com o Áreas Coletivo de Arte pois além de reconhecer o viés poético desse coletivo composto unicamente por mulheres, nos identificamos com o grande frescor de suas obras e o esforço em sempre promover relações verdadeiras que se estabelecem no aqui e agora em suas criações”, explica Marcelo de Souza e Silva, ator da companhia.

A ambientação sonora da peça tem a assinatura da banda Constantina, grupo instrumental belo horizontino de forte caráter investigativo e experimental. A proposta é que eles fossem afetados pela poética inicialmente colocada em cena e a partir daí entrassem em diálogo com a mesma, através de releituras musicais da cena, interferências e provocações.